domingo, 7 de dezembro de 2008

Hipocrisia e maturidade





Hipocrisia é uma palavra grega que significa
¨aquele que representa¨.

Ou seja, utilizada por quem era ator,
para alguém que representava um papel irreal num palco.


Hoje, com outro uso, refere-se áqueles que,
no cotidiano, comportam-se de forma irreal,
diferente do que são realmente.

Áqueles que,de forma incoerente,
externam aquilo que não são internamente.


É quando há dissociação
entre o interior e o exterior.


Quando agimos coreograficamente.

Quando reagimos em contrariedade ao coração.

Já fiz muito isso.
Muito!

Já apertei a mão quando tive vontade de humilhar.

Já me humilhei quando interiormente sentia orgulho.

Já demonstrei piedade sem que o coração sentisse nenhuma ponta de compaixão.

Já abracei com vontade de manter-me distante.

Já sorri tendo a alma vazia e em prantos.

Já me vesti bem sentindo-me desnudo.

Já aparentei felicidade sentindo-me oco.

Já fechei os olhos demonstrando emoção quando na verdade - em conversa comigo - desejava ir embora daquele lugar.

Já beijei sem sentimento.

Enfim, já ornamentei tantas vezes meus comportamentos com o fim de que, ao ser observado, transmitisse aquilo que eu gostaria de ter.

Ciente, porém, da ausência daquelas virtudes em minha vida.

O tempo passa.

A idade - junto com as tempestades da vida - vão transformando nossos valores.

Gradualmente começamos
a perceber que o palco vai perdendo valor para os bastidores.

Nos notamos diferentes.

Começamos a valorizar mais a copeira,
a faxineira do que os artistas principais.


Pois começamos a enxergar o quão patológico
é viver sempre num palco.

Preocupado e tenso com os aplausos.

Ansioso quando estes não vêm.

Felizes apenas quando se
ouve o barulho das palmas.

Pois começamos a enxergar a solidão do palco.


Nele não há espaço para a informalidade,
pois tudo foi ensaiado.


Nele não há estímulo a uma vida particular,
pois tudo é exposto.


Nele não há tempo de se olhar pra si mesmo, pra dentro. Para a alma.

Pois tudo é feito com a preocupação de agradar ao público.

Quanta gente vive assim.
Neurótica.


Com a mesma eterna preocupação interior. ¨O que vão pensar e falar de mim ? ¨

É o peso sufocante da opinião alheia.

A libertação vem quando descobrimos quem somos.

Quando nos percebemos como pessoas inacabadas e por isso mesmo em constantes mudanças.

Quando percebemos que nem Deus nos cobra que sejamos moralmente perfeitos de forma imediata.

Ao contrário, Ele nos ensina que isso será feito ao longo da vida...dia a dia.

Tal qual um nascer do sol, na aurora do dia.

Vagarosamente vai crescendo,
um pouquinho de cada vez.

Até ser dia completamente.


Quando entendemos isso, então nos libertamos !

Não para o comodismo.

Mas para entendermos que o processo de ¨ construção e acabamentos ¨será realizado em toda a vida.

Diante disso, caem as máscaras.

Desfaz-se a necessidade de se representar.


Não é mais necessário demonstrarmos quem não somos.

Nos rendemos a nós mesmos, a vida se torna mais leve.

O humor é melhorado por sabermos que sempre - em toda a vida - haverá o que se aperfeiçoar.


Tales Messias Ferreira é da Comunidade Cristã Renovada - JC - Sete de dezembro de 2008

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