segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Não me engana que eu não gosto



Sísifo era pra lá de esperto.
Só queria se sair bem.
Paquerava a namorada dos amigos.
Contava os segredos dos companheiros.
Gozava do pai.
Mentia pra mãe.
Trapaceava a mulher.
Nem a morte escapou.
Ao descobrir que ia partir, achou má idéia.
Como se safar ?
Só havia uma saída: passar a morte para trás.
Quando ela bateu à porta, o sabido a recebeu muito bem.
Conversou, riu, contou piadas.
A visitante se distraiu.
Não deu outra.
Ele a prendeu com cadeado e tudo.
Ela ficou presa um tempo.
Num descuido do sequestrador,a refém escapou.
Partiu pro trabalho.
Precisava levar muita gente pra recuperar o tempo perdido.
Sísifo foi o primeiro.
Quando chegou ao outro mundo,
disse aos deuses

que tinha esquecido uma coisa
muito importante na

Terra.
Pediu pra voltar um instantinho só.
Eles o deixaram.
Ao chegar aqui, o astucioso se

esqueceu da promessa.
Não voltou.
Muitos anos depois, tornou a morrer.
Aí ,recebeu um castigo - levar um baita bloco de
pedra até o alto da montanha.
Mas a pedra não pára.
Quando ele chega lá, a pedra rola.
Ele volta a levá-lo pro alto.
Ela torna a rolar.
O coitado faz isso até hoje.
É o martírio de Sísifo.

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ME ENGANA, QUE EU GOSTO


Dois de novembro é data especial.
Nesse dia, lembramos os que foram na frente.
Não lhes damos o nome de mortos.
Falamos em finados, filhote de fim.
A razão ? Morremos de medo da palavra que lembra dor, perda, sofrimento.
Lá no fundo,acreditamos que preferir o vocabulário atrai o mal.
Apelamos, então para eufemismos.
Adoçamos o termo.
Pra não pronunciar as cinco letras, recorremos a sinônomos brandos.
Manuel Bandeira chamou-a de ¨a indesejada das gentes ¨.
Outros dizem passamento,
falecimento,viagem, ida
para a companhia do Senhor,
passagem melhor, espichar a canela,
vestir o paletó de madeira, bater as botas.
E por aí vai. Vale tudo pra bancar o Sísifo.


Dad Squarisi Diário de PE 02/11/2008

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