Lia não sabia muito sobre o tempo e ainda menos sobre a falta que o tempo fazia.
Tinha todo o tempo do mundo pra correr, brincar e ver tudo o que via, fazer o que queria, bordando na infãncia sua colcha de alegria.
Entendia sim, e bastante, sobre uma saudade, que é do tempo também sua fantasia.
Sabia que a saudade às vezes até doía; era assim uma vontade que no peito não cabia de ver alguém que não podia ou de fazer algo que já não fazia.
Para dar conta de tanta saudade que sentia das coisas que nem sabia, a menina inventou então uma caixinha de guardar o tempo, o tempo que melhor vivia.
Sem querer descobriu a memória que podia pescar qualquer tempo
e plantar na lembrança tudo o que ela queria.
e plantar na lembrança tudo o que ela queria.
Na caixinha ia parar a folha da árvore que caía,
a gota da chuva que chovia,
o medo que ela escondia,
os bilhetes que ela escrevia,
os desenhos que ela fazia,
um tempo que ela sabia que não perdia,
a imensidão dos sentimentos que ela vivia e
a história da vida que ela tecia.
a gota da chuva que chovia,
o medo que ela escondia,
os bilhetes que ela escrevia,
os desenhos que ela fazia,
um tempo que ela sabia que não perdia,
a imensidão dos sentimentos que ela vivia e
a história da vida que ela tecia.
Lia guardou o tempo,
que passou também para ela,
agora,depois dos filhos, netos e bisnetos, muitas coisas ela já sabia e ainda aprendia.
Na caixinha de guardar o tempo, Lia juntou poesia e fotografia com as flores que sempre colhia, com os sonhos que ela nunca adormecia.
E tudo o que sentia era a imensa alegria de ter guardado com carinho
o melhor de cada dia!
Alessandra Pontes Roscoe
Um comentário:
Que surpresa achar minha caixinha de guardar o tempo aqui! O conto foi publicado na edição de novembro da Revista crescer e já rendeu uma oficina maravilhosa com idosos, pacientes em tratamento de Alzheimer no Hospital Escola aqui de Brasília. Contei a eles o conto, depois num tapete contei outra história e com a ajuda de outra amiga escritora, iniciamos a confecção de caixinhas pessoais para que cada um possa guardar o melhor de cada tempo. Uma experiência fascinante de construir com lembranças doces do passado, um presente que muitos já não conseguem ter. Agora além do meu trabalho com crianças, conto histórias e faço caixinhas com os idosos!
Grande abraço,
Alessandra Roscoe
http://contoscantoseencantos.blogspot.com
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