quinta-feira, 14 de abril de 2011

PROFESSORA MARIA








Poucas trabalham somente por prazer.

Ela não...

Para Maria seria diferente.

E,a maioria dos professores, que tem
um salário injusto
e tão baixo para a grandiocidade do seu ofício.

Precisava do emprego, do salário e compor o orçamento
numa dupla ou até mesmo tríplo jornada de trabalho.

Ainda mais, como professora, que é assegurada por lei.

E quando existia a
probabilidade de tirar licença maternidade, substituir
um colega em processo de aposentadoria tendo um
horário acumulativo, lecionando Jovens e Adultos...

Foi o que aconteceu com Maria.

Ela precisava pagar suas despesas e realizar-se na profissão
que escolheu e ,para qual ,estudou anos.

Foi trabalhar no que gostava e sabia fazer.

Passou a lecionar à tarde, numa escola da periferia,
lotada a quase 8 anos.

Ou seja, professora reconhecida e aceita
nessa Comunidade.

Havia no turno da noite, algumas vagas disponíveis, nessa mesma Escola para lecionar Educação de Jovens e Adultos.

Maria se propões em preencher o quadro de professoras e
ficou entre as 4 vagas.

Além, de lecionar no turno da tarde na sua vaga efetiva.

Decorrido o Ano Letivo, no conseguinte,
retornou a Acumulação.

Nesse interím, a Prefeitura se propões em reformar a Escola, diminuindo as salas de aulas para os alunos do 1º grau Maior.

Ocorreria somente enquanto houvesse a reforma.

Depois, tudo voltaria ao normal, com salas para todas as Séries.

Portanto, os alunos de Educação Básica de Jovens e Adultos
estavam sem local para estudar.

Havia um prédio, junto a esta escola em reforma, e alugaram para
as séries fossem lotadas alí.

Não parecia um local propício a nada, quanto mais a aprendizagem.

Mas estava-se entre o meses de Setembro e Outubro,
tolerava-se concluir o Ano Letivo naquelas condições.

Prédio de teto baixo, onde adentrava-se por um corredor principal úmido, estreito e escuro e á direita mais outro, levando-se a 5 salas, 'pretendidas' de aula.

Salas com cadeiras velhas e poucas usáveis...paredes molhadas, sem janelas e ventilação, telhas rachadas por onde chovia, ficando impraticável trabalhar nessas condições.

Não havia qualquer proteção naquele ambiente e, esse Anexo, ficava totalmente disperso, sem nenhuma comunicação da Escola de origem, mesmo sendo vizinhos.

Com todos esses problemas, teriam que terminar
o Ano Letivo para que os alunos não se prejudicasse.


Certa noite, quase no final do expediente as luzes se apagaram.

Começou a correria e Maria foi pega pela mão e arrastada
ao corredor por Rosangela.

Foram tateando no escuro até a primeira sala que
não tinha professora.

No percurso Maria foi biliscada, levou puxões no cabelo,
chutes dos próprios alunos.

O breu era total e só conseguiram andar pois, Maria encontrou uma caixa de fósforo na bolsa.

Porém, cada vez que acendia um fósforo vinham alunos e apagavam.

Passou uma eternidade para se locomover a uma pequena distancia, pensando salvar-se do perigo.

Mas, que nada!

Esse local ,estava próximo do corredor para sair
daquela "Senzala" e escapar dos vândalos.

Rosangela foi na frente quando percebeu que estavam
entricheiradas e presas, diante daquele fogo.

Na única passagem de entrada e saída daquele cafofo,
havia uma pilha de cadeiras em chamas impedindo a saída.

Pobre Maria, mulher forte nos dissabores da vida,
mas impotente diante daquela situação!

Ficou em pânico.

Contudo, Rosangela Vidal, por ter um porte físico maior,
conseguiu sair dali levando Maria.

Na Escola de origem, em construção,
foram recebidas como se algo de corriqueiro
houvesse acontecido.

As outras professoras que trabalhavam com
Maria e Rosangelajá estavam alí.

Era como tivessem sido avisadas com antecedência e escapado sem comunicar as outras.

Maria assustada foi recepcionada por uma das colegas de trabalho, professora Bete como se fosse uma exagerada e falo:

- Maria por que exagero e nervoso, eu consegui sair logo, não vi nada de mais, só um pequeno incendio.

O cinismo e a molecagem lhe fizeram calar
diante daquele abuso de poder.

Em plena década de 90 ,Maria se sentiu no
tempo do Militarismo.

Impedida de externar sua revolta e procurar seus
direitos, silenciou.

A Direção da Escola e toda cúpula era ligada ao PT,
Partido Político se evidenciando, no momento.

Maria agradeceu a Rosangela,
por ter-lhe ajudado a salvar sua vida.

E lhe será grata eternamente.

Quanto a Bete e a seus parceiros, Maria sentiu-se triste pois, a própria colega de profissão não lhe defendeu.

Preferiu aderir a omissão dos erros de quem tinha o
Poder nas mãos naquele momento.

No outro dia, abriram uma porta de acesso
entre o Anexo e a Escola.

Maria deu uma aula de ética, civilidade e cidadania aos alunos, deixando bem claro que outra daquela iria a
Delegacia e ao Sindicato.

Não se sabe ao certo os culpados
por esse crime.

Maria não deixou em acreditar no Partido nem de sonhar
com os ideais do PT, na construção de um País mais igualitário
e justo para todos.

Porém, não é "pelêga" de político nenhum, suas convicções
são próprias.

Nem tira vantagem com a desgraça alheia.

Se possível faz justiça, dar o troco, sem vingança.

Não é Maria vai com as outras, sabe o que quer.

Nessa ocasião, ninguém saiu físicamente ferido,
mas cicatrizes existem até hoje,
pelo menos em Maria.

Rogéria Costa

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