quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Venda de Seu Mariano







Na calçada recepcionando quem chegava, enfileiravam-se balaios trançados de cipó,
repletos de
laranja,
limão,
abacaxi,
batata,
milho verde,
coco seco,
inhame,
macaxeira...

Um colorido só!

Ajuntavam-se, também, os de
chuchu,
tomate,
cenoura...

Que gostosura!

E mais meia dúzia em variedades de verdura.

Cuidadosamente regadas,
braçadas de coentro e cebolinho...

Limpinhos, tudo verdinho!

Porta larga , arqueava áquela 'bodega',
que num recanto empilhava-se
sacos de 'juntas' ,
grãos de milho,
feijão,
farinha de mesa ,
xerém,
sal de pedra ...

Escolhidos com a mão!

Outros mais baixo,
instalados á direita ,
era a vez da

Avevita
(comida de galinha)
e o milho seco,
alpiste
(alimento para aves)...

Ao lado do armário.

Na outra extremidade, algumas sacas de carvão.

Vendia-se, também "quartinha", panelas de barros, vassoura de piaçava e abanos para o fogão.

Olhando-se para cima, vê-se as telhas sustentadas
por toras de madeiras.

Com teias de aranhas caídas ao chão.

Pendurados no telhado,
diferentes utensílios rústicos como
buchas naturais,
funís de flandres,
candeeiros à gás,
peneiras de arame,
canecas ,
panelas de alumínio,
rede e anzol,
pinico ou urinol
para as meninas e meninos...

Retira-se os objetos com o auxílio
de uma vara de goiabeira flexível e comprida,
onde havia um arame como gancho para pescar a
mercadoria à venda.

Num recanto da parede vê-se
o feixe de cebola
junto com
a réstia de alho.

Belo espaço decorado!

Prateleira de madeira,
alta e resistente apilhada de garrafas
de vinho,
cachaça,
refrigerante caçula
e mel de abelha.

Com alguma dificuldade,
por tudo que havia no chão,
chegava-se num largo e
bem abastecido balcão.

A
lata de Manteiga, enorme na nossa frente;
instalada junto com a Banha.

De marca e nome reconhecido.

Balaio de ovos embrulhados com jornal.

A Banha e a Manteiga, para se levar ,
envolvia-se no papel de seda,
arrematado com o de madeira.

Não havia plástico, vendia-se dessa maneira!

Um pacote original!

Genero
sa porção de Charque exposta no balcão,
junto com uma balança de pesos de bronze.

M
edia cada compra com total precisão!

Embaixo daquela mesa comprida,
com primazia, funciona a vitrine.

Armário envidraçado,
mostrando a secção de perfumaria
com
sabonete Life Boy,
Alma de Flores...
talco e lavanda Alfazema,
Phebo
e o Leite de Rosas.

Também a brilhantina, pincéis e loção de barbear,
lâmina chamada Gillete ...

Além de muitas outras bossas.

Artigos dos homens pintarem o sete.

Luxo para preencher os olhos dos rapazes e da mulherada .

Sianinhas e fitas de cetim,
Óleos de amêndoas e pastas de dente...
agulhas e linhas,
grampos e biliros,
escova e pente.

Vendia-se a Tabuada,
borracha e
lápis grafite
para toda gurizada.

Pirulito,
bala de goma ou alfinim,
moeda de chocolate,
caixinha de passas,
pipoca,chiclete,
cocada e
nêgo bom...

Num caixote no chão
estava o
Òleo de Peroba,
sapólio,
sabão de pedra e de coco,
álcool,
querosene...

Ajudava na limpeza...Tudo de bom!

Na Venda de Seu Mariano encontrava-se
diversidade de produtos.

A única da região.

As pessoas podiam comprar na 'Caderneta'
ou pagar por tostão.

Famílias de fino trato,
todo mundo conhecido;
tinham o aval em adquirir do amigo,
uma Caderneta do Seu Mariano
e sem nenhum contrato.

Literalmente, um caderninho com
as páginas numeradas,
onde tudo que se comprava era anotado
e datado pelo fiel proprietário.

Ficava fiado,
mas podia ser pago
até o final de cada mês,
quando o salário era recebido por
cada freguês.

O direito de comprar era o mesmo de pagar, mas pagamento com dinheiro, sem maltrato
nem desepero.

Alimentar-se é um direito humano,
porém, sem ter que depois,
ser obrigado a se punir.

Precussora dos Pegue Pagues da Vida
(como diz o poeta), da parcela dividida,
dos atuais cartões.

Localizada na esquina da rua Rolim,
encontrava-se a disputada
Venda de Seu Mariano,

Impulsionou prosperidade para o nosso Jardim.




Rogéria Costa


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