terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

TORTURA NUNCA MAIS






Década de 70.
Final de ano.
Turma de Conclusão do antigo Curso Ginasial.
Colégio particular,feminino, comandado por uma Ordem católica.
Localizado num bairro classe média da nossa cidade.
Decidiram a cerimônia festiva,
acordaram todos os preparativos, inclusive a indumentária,etc.

Comunicaram,depois, que seria tudo padronizado.
No primeiro momento, decidiram que o traje seria um ¨chemisier¨de comprimento abaixo dos joelhos, porque participariam de uma missa.
Depois, uma delas(não me lembro quem) falou que o traje havia mudado.
Seria vestido,
modelo aleatório,
mas mini saia.
Estava no auge da moda!
Não se falou mais no assunto...

Imediatamente, escolhi um modelo mini saia godê com short e compareci à missa.
Ao chegar, me deparo com as ¨colegas¨ usando vestidos chemisier, diferente de mim.
Foi um choque!
Tinham planejado aquilo para me deixar infeliz. Porque?
Fiquei decepcionada com aquela atitude cruel e que não condizia com o propósito: celebração de uma missa.
Através desse procedimento, tentaram me prejudicar para a vida inteira, (mas não conseguiram) deixando-me num momento humilhante.
Pretendiam me tornar uma pessoa pior que elas, para mais tarde, me apontarem como desajustada, complexada...
Queriam que eu fosse diferente, por ser deficiente. E sempre ficava muito brava quando me desmoralizavam com o que não tinha culpa de ser.
Porque fazer alguém sentir-se diferente ?
Por acharem que era complexada por ser deficiente?
Para me inferiorizarem?
Por me sentir agredida quando me colocavam apelidos?
Por acharem que não me aceitava?
Ou será o contrário?
Fui eu quem planejei essa ¨brincadeira de criança¨, ou foram elas ?
A falta de aceitação era de mim mesma ou elas não me aceitavam ?
Será que fui vestida diferente para chamar atenção ?
Ou queriam aparecer explorando minha deficiência, transferindo para mim seus próprios traumas e medos?
Será que haverá explicação ?
Foi tão forte que não esqueci até hoje!
Isso poderia ter contribuído para me tornar uma pessoa ruím, desarrumando meu caráter.
Quem sabe não interferiu em algumas passagens da minha vida ?
Momentos onde deveria ter mais equilíbrio, amor próprio, sensibilidade,autencidade, firmeza, segurança, verdade, amor, etc.
Acredito que de certa forma agiu na formação da minha personalidade, apesar de ser uma guerreira vitoriosa.
Vitoriosa por está viva, apesar de conviver no meio de batalhas que não estavam em harmonia com meu temperamento.
Não sei planejar para destruir ninguém.
Jamais seria capaz de planejar acabar com a auto-estima de alguém,principalmente, sem haver motivos admissíveis.
Portanto, hoje, percebo que sou mesmo bem diferente dessas pessoas.
Ainda bem!!! Se assim não fosse, ficaria muito decepcionada comigo mesma.

Fui inserida numa situação ridícula para ser o patinho feio, a diferente, a pior...
Jamais perdoarei!
Foram 4 anos de convivência diária na escola e, algumas vezes, fora dela.
Não havia motivo de mentir, me enganar, levando-me a essa zombaria.

Se o propósito era para dar um ¨choque psicológico¨por me acharem complexada.
Mero engano !
Isto não é verdade!
Qualquer deslize,ou erro ,que encontra-se na minha personalidade, seria motivo para me tornarem diferente, ter o gostinho de massacrar.
Se eu fosse complexada, não teria escolhido e comparecido com uma mini saia.

Apenas, não gostava de me expor no cotidiano, pois, costumavam zombar do meu defeito físico, chamando-me de aleijada, côcha,etc.
Quando se está na adolescência
pode-se chegar a extremos.

Por exemplo, se expor fisicamente, ou não querer mostrar-se.
Sendo ou não deficiente.

Será que naquela turma não havia alguma aluna com a sensibilidade menos infantil para perceber o que estavam fazendo?
Quem foi o autor intelectual dessa brincadeira?
Por que? Para que?
Onde está codificado que pode-se
tratar alguém assim?

E as justificativas?
Quem as têm ?

Não havia razão em me
colocarem numa situação humilhante e se vingarem de mim.
Vingança de que?

Nunca me meti na vida de nenhuma delas.
Jamais pensei destruir o destino de alguém.
Fugia da fofoca,do fuxico,da desmoralização, da perseguição, etc.
Havia completado 14 anos.
Na minha cabeça não tinha idéia de maldade,
nem personalidade pervesa.

Se,alguma vez, irritei-me com as pessoas é porque estava sendo provocada e perseguida.
Brincadeira infantil deve trazer criatividade, sabedoria, perspicácia e benefícios.
E não ser a tentativa de estragar vida de inocentes.

Jamais, fiz cara feia, nem demonstrei rancor.
Continuei falando com algumas delas que encontrava.
Não por falsidade, mas por conviniência ,pois faziam parte do meu ciclo de conhecidos.
Como usar a ¨missa sagrada¨e destilar tanto veneno numa pessoa que estava vivendo momentos ruíns com a separação dos pais e mudança radical de vida?
Muitos sabiam disso!

Continuo acreditando em Deus,
na Virgem Maria e no poder da fé
que deposito em Jesus.

A religião católica nada tem
haver com esse ato desumano.
A não ser que me provem o contrário!

Não acredito que os ensinamentos de Cristo estavam na vida e no coração de nenhuma delas, naquele momento.
Agora, não tenho mais vergonha de expor essas fotografias,pois, por muito tempo senti-me culpada, como se fosse tão desprezível que não conseguia conquistar amizades sinceras e leais.
Quem deve se envergonhar são elas!
Justamente, quem me colocou nessa humilhação.
Existe o entendimento através
do diálogo, compreendendo-se,assim,certas atitudes.

Ninguém educa,nem aprende pela crueldade.
Devem se envergonhar da discriminação,
da falta de respeito ao ser humano, da ausência de caridade, do desamor.

Percebo em cada fisionomia um ar de sarcasmo, de vingança, de maldade.
Até hoje, não entendi o cérebro desloucado de quem arquitetou esse plano.
Gostaria de conhecer, pois possuo ,agora, forças para responder e defender meu ponto de vista sobre esse ato.
E, olhando, olho no olho!
Dizer que sua psicologia foi de baixo escalão!

Fazíamos parte de uma comunidade cristã, estudávamos e a nossa diferença seria a ¨pólio¨.
Disso, tiveram o direito de me menosprezar.
Mas, ninguém me entendia ,nem defendia.
Apenas, ficavam observando aquelas pessoas despreparadas me julgando, agredindo ou censurando por tentar me defender ao ser agredida.
Também, não podiam me rotular ,nem destruir minha auto-estima num momento tão importante.
Nem em nenhuma outra ocasião.

Se alguma delas tiver consciência, há de se arrepender.
Chorei bastante, me decepcionei com isso, mas, jamais, deixei de acreditar em mim.
Apesar de tudo, estudei, trabalhei, sofri muito e constitui minha família.
Tenho um enorme orgulho de mim por tudo isso!
E, hoje, ainda, possuo forças, esperanças e certeza de RECOMEÇAR.
Também, a certeza que tudo de bom conquistar.

Tenho absoluta compreensão e fé em Deus que serei sempre VITORIOSA em tudo que almejo.
Sei que meus pensamentos e atos nunca foram motivos suficientes para destilarem tanto ódio em minha vida.
Que me persegue por muitos anos.

Agora, posso mostrar ao
mundo e exorcizar essas criaturas da minha existência,
ficando livre dessas lembranças.

Exponho todo meu protesto da discriminação sofrida.
Espero que não se repita tamanha
crueldade com quem não merece.

Graças a tecnologia,após tantos anos,
conquistei o direito de mostrar
ao mundo essa realidade injusta.


Rogéria Costa

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