sábado, 23 de julho de 2011

CONSEQUÊNCIAS DE SER UMA CRIANÇA DEFICIENTE

Rogéria Costa aos 4 anos



Como pedagoga e deficiente fiz questão de trazer esse maravilhoso texto, muito bem redigido e esclarecedor num assunto tão polêmico na atualidade.



Tive a feliz coincidência em encontrá-lo no site " MIL MANEIRAS Estimulação Pedagógica", para deixar registrado no FRAGMENTOS.



Parabenizo a Sueli Freitas pela bela produção.



Agradecemos o útil e proveitoso trabalho que executa.



Abraços



Rogéria Costa



QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DE SER UMA CRIANÇA DEFICIENTE?.



Todo ser humano planeja o que vai acontecer, seja uma festa, um passeio
ou o nascimento de uma criança.

Isto acontece em qualquer idade e com ambos os sexos.


Quando a mulher sabe que está grávida, começa a fazer planos para a vida do bebê que vai chegar. Imagina seu rosto, seu corpo, a cor dos olhos e cabelos, como ele se comportará diante das coisas e da vida, sua profissão, etc.

E não existem exceções, mesmo para aquelas que não querem a gravidez, que os abandonam ou os colocam para adoção.

Isto é próprio do sentido de maternidade que envolve as mulheres.

Durante os nove meses de gravidez, a futura mãe imagina um filho perfeito
em todos os sentidos.

Com a proximidade do parto, deseja certificar-se de que seu sonho se
transformou em realidade.

O bebê nasce e então, vem a noticia de que seu filho jamais será do
jeito que ela sonhou.

Ele tem uma deficiência qualquer.


Ao receber a notícia, os sentimentos da mãe se confundem.

Forma-se um misto de decepção e de vergonha, de tristeza, desespero e de angústia,
de medos e de incertezas.

A única certeza é a de que o filho não é o que ela esperava.

E a primeira atitude é a “rejeição”.

E segundo Winnicot, são os primeiros cuidados e afetos que definem a
relação mãe-filho e a relação filho-mãe.

Mas, o bebê precisa de alimentação e de cuidados.

E mesmo contra a sua vontade, a mãe o faz.

Aos poucos, o lidar com o bebê cria laços afetivos e ela percebe a dependência, as necessidades e as prioridades daquele ser.

È a maternidade que lhe dá essa “coragem”, mas não podemos chamar
a isto de “aceitação”.

Existem mães que se desdobram em cuidados pelos filhos deficientes sem que jamais tenham aceitado sua condição.

A mãe os alimenta, troca, banha, brinca com eles, os leva a médicos, à fisioterapia, etc.

Corre o tempo todo.

Sua força se contrasta com a do parceiro, que tenta por um tempo, mas se
resigna e desiste.

E com a desistência do parceiro vem, geralmente, a separação do casal.

E novamente, a criança deficiente é considerada a “culpada” pela situação.


Muitas precisam ganhar a vida e voltam ao mercado de trabalho.

A criança deficiente passa a ser cuidada por um familiar ou por
uma pessoa contratada.

Estas pessoas,não possuem a mesma força da mãe e, em 90% dos casos,
passam a considerar o deficiente como um “estorvo”.

Daí, as notícias constantes de maus tratos.

As crianças crescem.

E com o crescimento, a vida social.

A partir de então, todas as vezes que a criança sai à rua, é olhada de forma “diferente”, cheio de “curiosidade”.

E a mãe sente isso.

Brigar, arrumar confusão, sentir vergonha do
filho não ser perfeito?

Não. O melhor é deixa-lo em casa.

E com isto, a criança deficiente passa a ter uma “privação cultural”.

Isto significa que seu mundo passa a ser restrito ao
ambiente caseiro, desconhecendo o restante do mundo e das relações.

Faltam-lhe imagens desse mundo amplo para que desenvolva seu conhecimento
sobre as coisas e a falta dessas imagens lhe causará mais dificuldades na escola.


E por falar em escola, a luta começa pela matrícula.

Mesmo tendo a obrigatoriedade de aceitar sua matrícula no curso regular,
muitas escolas ainda não as aceitam, justificando-se com a
falta de pessoal especializado.

Na verdade, um aluno de inclusão “dá trabalho” para a escola que deve instruir seus professores a lidar com as diversas deficiências e isto inclui, muitas vezes,
o retorna à Universidade.

Por outro lado, os professores alegam não saber lidar,
de não estarem preparados etc.

Na verdade, é o “preconceito” quem fala mais alto.

Ainda na escola, 95% dos alunos deficientes que as freqüentam
não vêem respeitadas as suas necessidades educativas especiais”.

Os deficientes devem fazer o que todos fazem e com a mesma carga de tarefas, devem produzir de forma igual a todos os outros, as provas são idênticas, mesmo fazendo-se uma programação especial.

É o que eu escrevi numa postagem anterior:
querem que cegos vejam, que surdos ouçam, que paraplégicos
andem e deficientes intelectuais compreendam da forma que a escola e
os professores entendem como certo.


Ainda na escola, se uma criança normal bate na outra por uma querela qualquer, leva uma repreensão e pronto.

Se um deficiente se defende de uma agressão sofrida e bate, ele é o “triste”, “agressivo”, “impulsivo” da história e logo tratam de pedir ou de induzir sua transferência.

Ainda na escola, os deficientes são as maiores vítimas de bullyng ou de brincadeiras vexatórias, que os expõe ao ridículo.

Isto porque nem as famílias, nem a própria escola se dispõem a trabalhar os alunos normais para aceitarem as deficiências.


Outra coisa que escola, como representante da sociedade num espaço limitado como o recinto escolar, e a sociedade ampla (como espaço de cultura) fazem, é negar a “deficiência”, chamando-a de “diferença”, com medo de serem chamados de "discriminadores" ou "de preconceituosos".

Diferentes?

Todos somos diferentes.

Não existe ninguém igual a mim ou igual a cada um de vocês.

O deficiente sabe que é deficiente e não adianta esconder isso de ninguém.

Fato é fato.

E ninguém se chateia com fatos, mas com a negação deles, sim.

A sociedade não vê o deficiente pelo seu interior, mas pelo que aparenta ser.

As pessoas julgam as outras pela “casca”, pelo “papel de embrulho”, e não pelo
que são de verdade.

No caso dos deficientes intelectuais, por exemplo, ou julgam que jamais poderão aprender alguma coisa ou negam sua deficiência,
exigindo deles coisas impossíveis.

Essas pessoas têm medo de descobrirem que são mais deficientes que os próprios deficientes, porque a maioria delas tem uma deficiência de caráter,
de personalidade ou de alma.


Gostaria muito que as coisas fossem diferentes.

Que houvesse mais compreensão, mais ética e mais respeito na Educação.

Gostaria sim, que o mundo fosse melhor, mais humano, mais fraternal.

Gostaria que a escola e a sociedade fossem mais inclusivas.

Mas, não posso mentir, nem florear a realidade.

Falta muito para chegarmos lá.


E esta é a minha luta.

Minhas armas, como afirmei na postagem anterior, são as palavras nas
postagens deste blog e o meu trabalho com deficientes intelectuais.

Se eu conseguir que uma única pessoa olhe
os deficientes com outros olhos, já estarei feliz.




FONTE
http://milmaneiraspedagogia.blogspot.com/search?updated-max=2011-06-24T17%3A50%3A00-03%3A00&max-results=7




Um comentário:

Sueli Freitas disse...

Obrigada por ter escolhido ete meu texto. Fiquei muito honrada com sua atitude.Meu blog está à sua disposição para visitá-lo quando quiser e puder.
Sueli Freitas, do blog Mil Maneiras Estimulação Pedagógica.